Conselho consultivo ou CONSTRUTIVO?
Por Leonardo Silva
Sim, parecem palavras iguais ou algum trocadilho de marketing, mas vou tentar te mostrar que não é bem assim.
Na Wiztartup temos a governança corporativa com um dos pilares da empresa - capital, conhecimento e networking. Isso é feito com muito cuidado no pós investimento, que é a hora da verdade para as nossas empreededoras e nossos empreendedores.
Mas quais são os principios da governança corporativa de acordo com o IBGC - Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (onde integro a comissão de scaleups)? Após última revisão do código, agora são 5, as quais listo abaixo:
Transparência - Disponibilizar, para as partes interessadas, informações verdadeiras, tempestivas, coerentes, claras e relevantes, sejam elas positivas ou negativas, e não apenas aquelas exigidas por leis ou regulamentos.
Responsabilidade - Desempenhar suas funções com diligência, independência e com vistas à geração de valor sustentável no longo prazo.
Integridade - Praticar e promover o contínuo aprimoramento da cultura ética na organização, evitando decisões sob a influência de conflitos de interesses.
Equidade - Tratar todos os sócios e demais partes interessadas de maneira justa, levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas, como indivíduos ou coletivamente.
Sustentabilidade - Zelar pela viabilidade econômico-financeira da organização, reduzir as externalidades negativas de seus negócios, e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais.
Eu acredito que são fundamentais para a perenidade que se espera de uma empresa que esteja jogando o jogo infinito dos negócios. E isso é o que se espera de conselho de administração, o qual governa a gestão de um negócio ou de um conselho consultivo que funciona como um farol e guia para os sócios empreendedores de um negócio.
Mas será que é isso que o pequeno e médio empresário espera?
Em um mundo volátil, incerto, complexo e cheio de riscos, um conselho consultivo que dá opiniões e não participa da solução atende essa expectativa? Ou um conselho consultivo que disputa opiniões individuais e não busca a melhor solução para o dilema ou desafio da vez para a empresa? Será que um conselho sem nenhuma experiencia empreendedora chega na freqüência sobre gestão de capital próprio e tomada de riscos que o empreendedor já tomou em sua jornada?
O empreendedores, de forma geral, são pessoas muito solitárias. Em suas empresas, raramente existem executivos C-level ou outros diretores para debates mais profundos sobre o mercado, inovação, a concorrência ou questões de risco. Os sócios muitas vezes já esgotaram suas experiencias e vivencias e muitas vezes precisam resolver diferenças de opinião e conflitos internos. Em muitos casos, não possuem um ambiente para testar novos insights e ideias ou até mesmo para desabafar em alto nível.
Por isso, trago a reflexão afinal os conselhos de PMEs (pequenas e médias empresas) deveriam também ser construtivos. Ou seja, fornecer apoio real para resolver problemas, apontar soluções para o curto prazo enquanto também debate e direciona as questões de perenidade e o longo prazo. O empresário, em geral, precisa e aprecia este apoio.
E quais são as principais características de um conselho consultivo que é construtivo? Listo aqui as principais:
- O grupo pensa na estratégia de longo prazo, na perenidade do negócio, na sucessão, mas também apoia o empreendedor nos problemas do curto prazo. Não é fazer, pois o conselheiro é um diretor não executivo, mas aponta caminhos práticos e soluções de forma pragmática para a transição do negócios.
- O conselheiro construtivo não quer estar certo, ele deseja fazer o que é certo e melhor para o negócio. Ou seja, buscar uma solução colegiada ao invés demonstrar ser conhecedor ou expert em determinado assunto. O ego e as eventuais disputas pessoais deveriam ficar do lado de fora da sala. O debate é duro e construtivo nas ideias, não em pessoas.
- O conselho é formado por integrantes que jogam junto sempre a favor da empresa do empreendedor. Se não serve para o resultado e progresso do negócio, então não serve a ninguém. É muito importante que seus integrantes sejam diferentes e tenham visões complementares, mas falem a mesmo idioma. O empresário não pode sair desta reunião mais perdido do que entrou.
- Alguns de seus integrantes tem perfil empreendedor. Aponta as soluções e apoia em comitês e reuniões extraordinárias com a equipe executiva da empresa se de fato a coisa esta acontecendo e quais são os obstáculos. De novo, não é fazer, mas sim apoiar. Empresário de PME precisa de um passo a mais nesta equação de valor.
- Não existe espaço para enrolação teórica (bullshitagem) sem aplicação prática no momento e no contexto do negócio. Eu garanto que todo empreendedor e empresário que ralou para chegar onde chegou tem paciência bem pequena para enrolação de grande corporação.
- O conselheiro(a) construtivo gosta muito de empreendedorismo e tem real admiração pela história dos empreendedores que ele passa a fazer parte. Existem problemas em qualquer negócio, e este conselheiro(a) esta lá justamente para ajudar o empresário a mover adiante mais algumas casas no tabuleiro do jogo dos negócios. O jogo final é o da soma das partes.
- O cotista de uma empresa limitada monta um conselho consultivo para lidar com a dificuldades externas, mas se preocupa muito com as suas dificuldades internas. E para isso, precisa migrar sua atuação do CPF para o CNPJ, com a confiança de que o conselheiro é de confiança. Ou seja, no conselho construtivo o foco é o longo prazo, mas os problemas de curto prazo também são importantes dentro de um ambiente de abertura e confiança. Esta confiança não se forma através de pessoas conhecidas ou indicadas, porém sem o conhecimento para o desafio do momento.
- Existe o tempo para o conselheiro (a) contribuir e até para deixar o conselho. O mindset evolui e os desafios mudam, então o conselho construtivo não é estanque e se adapta a mandatos coerentes com o momento e desafios do negócio.
- No conselho construtivo existe um ambiente aberto para experimentação. Perguntas como: E se? (possibilidades), Porque não? (postura crítica sobre o contexto), Não esquecemos de ninguém? (stakeholders), Quais são os impactos (relacão de causa-efeito com responsabilidades? Este ambiente é o mais apropriado para testar ideias e conceitos em um mundo a estratégia competitiva é transiente e não mais sustentável. Sim, tudo muda muito rápido e devemos manter nossa capacidade de questionar.
Caso você ainda não conheça o conceito ESG, o G é a da Governança corporativa. E essa pode ser aplicada, em diferentes pesos e medidas, também à pequenas e médias empresas. Hoje em dia, consumidores, clientes, investidores e demais partes interessadas estão de olho e confiam mais em empresas que possuam este apoio em sua gestão através de um conselho consultivo.
Todo empresário precisa de ajuda para lidar com um mundo cada vez mais incerto, volátil e completo. Estou certo de que com as pessoas certas ao lado, essa jornada empreendedora terá mais chances de sucesso no longo prazo, afinal, quase todo empreendedor funda um negócio para o jogo infinito dos negócios.
Convido a todas e todos para participar desta conversa nos comentários. Vamos fazer a mesa da governança corporativa girar! Até a próxima! Leonardo Silva