Divertida mente irracional.

Por Carlos Rubinstein

Cérebro. Um aparato com o qual pensamos que pensamos.

Ambrose Biarce

Desde tempos imemoriais, e em especial no século XXI, houve menos de uma dúzia de mortais investidores cujas mentes foram capazes de contemplar o universo de investimentos em sua totalidade: Buffett, Graham, Lynch, Barsi, Lemann, Silva e Rubinstein, são alguns nomes que surgem em meu cérebro antes de confirmar a lista com uma pesquisa no Google. (reconfirmada no chatGPT).

Silva e Rubinstein com os bolsos comparativamente menores e insignificantes, são talvez mentes de negócio que destonam na corrida, embora eles saibam que o século XXI ainda tem chão. É claro que o consenso geral diz que Buffett é o oraculo de Omaha, por enquanto.

 Na quarta edição do livro “o Investidor Inteligente” (1973), Buffett escreve no prefacio:

_“Investir com sucesso ao longo da vida não requer de um QI estratosférico, insigths excepcionais de negócios ou informações privilegiadas. O que é necessário é uma sólida estrutura intelectual para tomar decisões e a capacidade de impedir que as emoções corroam essa estrutura.”

É claro que Buffett e o consenso geral concordam comigo em que este é um dos melhores livros de investimento já escritos.

 “... Impedir que as emoções corroam essa estrutura” não é algo trivial e requer, no mínimo, o autoconhecimento emocional do próprio investidor.

Talvez à primeira vista, na quarta edição “revisada” do livro o próprio Jason Zweig complementou o prefacio de Buffett.

_ Quem, Jason? Quem é este cara?

Jason é colunista do Wall Street Journal e autor de “Your Money and your Brain”, outro livro sensacional para quem gosta de investir e quer levar a sério.  Ele aborda nossa relação com o dinheiro desde a ótica da neurociência, especificamente a neuroeconomia e de como absolutamente todas as decisões que envolvem dinheiro são atravessadas constantemente por nossas emoções, consciente ou inconscientemente. O que não nos torna especificamente seres tão racionais como pensamos que somos.

Controlar nossas emoções e tão importante como conhecer como elas realmente nos afetam em relação as nossas decisões de investimento.

 Jason afirma que nosso cérebro intuitivo realiza emboscadas o tempo inteiro, pode conferir aqui:

Nosso cérebro está lotado de armadilhas pré-programadas nas quais acreditamos sem piscar os olhos. Se pensamos, usamos a parte analítica de nosso cérebro, ou ao menos achamos isto. Se sentimos, usamos a outra parte, a intuitiva, a sentimental.

Então, pensemos juntos o seguinte problema(A): Uma barra de chocolate e um chiclete juntos custam R$ 1,10. A barra de chocolate custa R$ 1,00 a mais do que o chiclete. Rápido: quanto custa o chiclete? Agora, dedique cerca de trinta segundos para decidir se deseja alterar sua resposta.

... (30 segundos depois). Quase todo mundo, à primeira vista, diz que o chiclete custa 10 centavos. A maioria das pessoas nunca perceberá que a resposta está errada, a menos que explicitamente pensam para revisar sua própria resposta. Deixo a resposta no final deste artigo, não vai embora ainda daqui. 

Buffett percebeu desde o começo a importância de manter sobre controle o lado intuitivo e emocional de nosso cérebro. Escreveu isto num livro extremamente analítico, quase no início de sua longa jornada de investidor.

Logo quanto antes aceitemos e nos esforcemos em conhecer melhor o lado não analítico de nosso cérebro, estaremos mais próximos de tomar decisões que envolvem dinheiro de uma forma mais racional.

Os erros mais comuns que as pessoas cometem na hora de avaliar onde investir (e isto vale para qualquer tipo de investimento), estão relacionados com: Excesso de confiança, avareza, ganância, medo e conservadorismo.

Se você não olhou a resposta correta à armadilha mental do chiclete e a barra de chocolate, então possivelmente você caiu nela e sua autoconfiança (“o ego”) atravessou seu cérebro analítico com a resposta pronta e em badeja de prata.

A imensa maioria dos investidores almeja ter retornos acima da média, ganhar persistentemente da inflação e acumular um patrimônio significativo que permita uma aposentadoria mais confortável. O plano desta maioria é gerar retornos positivos no curto e mediano prazo. O que de cara eleva o nível de dificuldade desta maioria.

A principal mensagem do Graham em seu livro é que os investidores devem ser realistas, pacientes, disciplinados, curiosos e críticos para terem êxito em seus investimentos. Além de serem independentes em suas avaliações e não seguirem “a manada”.

Para isto sugere uma estratégia baseada na prudência e centrada na diversificação, análise fundamentalista e o controle dos riscos. Também sugere procurar empresas com ações por debaixo de seu valor intrínseco com o objetivo de obter uma maior rentabilidade. Comprar em preços excessivamente altos ou deixar-se levar pelas tendencias do mercado, é algo que Graham recomenda não fazer.

Um portfolio diversificado implica em alocar uma parte do capital em renda fixa, e uma parte do capital em renda variável. A distribuição deste capital oscila como um pêndulo dependendo do cenário e a tendencia macroeconômica em conjunto com as oportunidades que o investidor vislumbra. Ele sugere investir, no mínimo, 25% em Renda fixa e no máximo 75% em renda variável: quando o momento é propicio para o mercado acionário. Ou o inverso quando o momento é propicio na renda fixa. Dentro desses parâmetros o investidor inteligente precisa estar equalizando seu portfolio com relativa periodicidade. Aqui a visão de longo prazo é fundamental (3, 5, 7 ou mais anos).

 

Não se trata de anular as próprias emoções (isso não é humano), mas sim de entender como esse mecanismo natural interfere em nossas análises quando tem dinheiro envolvido.

 

Os próprios Warren e Charlie (seu sócio desde a fundação da Berkshire Hathaway) sabem que a sólida estrutura intelectual pode ser corroída pelas emoções em qualquer momento. Em artigo publicado na CNBC(2017) ambos reconheceram que “foram muito burros” por não comprar ações do Google na época (declaração de Buffet na reunião de acionistas anual – tradução livre do próprio google translate).   

Buffett perdeu duas vezes a oportunidade de fazer um aporte significativo no Google. No final de 2000 ele se reuniu em Omaha com os fundadores do google Larry Page e Sergey Brin e o então CEO Eric Schmidt.

_ Sinto-me um idiota por não ter visto o potencial do Google. E acho que Warren deve estar sentindo a mesma coisa. Nos estragamos tudo -Diz Chalie-.

_ Ele está dizendo que “fizemos besteira” -aclara Buffett em declaração a CNBC.

 

Buffett justificou sua decisão de ficar de fora apontando sua falta de experiência tecnológica. Não foi possível avaliar se o Google tinha uma vantagem competitiva sustentável ou se seria superado pelos rivais, disse aos investidores. Ele trocou pessoalmente os mecanismos de busca do AltaVista para o Google seguindo o conselho de seu amigo Bill Gates.

O problema é que vi que o Google estava atropelando o AltaVista e me perguntei se alguém poderia atropelar o Google", disse Buffett na reunião anual da Berkshire em 2018.

 

É possível perceber como as emoções corroeram as decisões de investimento de Warren e Charlie. Você consegue vislumbrar quais emoções foram essas? 

As oportunidades muitas vezes estão na nossa frente. Entender o mecanismo que faz com que fiquemos de fora de uma boa oportunidade, o mergulhemos de cabeça em um péssimo negócio é essencial para tentar construir e alavancar nosso patrimônio.

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Resposta (A): Depois de pensar por um tempo, você provavelmente percebeu que cometeu um erro: se o chiclete custa 10 centavos e a barra de chocolate custa R$ 1,00 a mais que o chiclete, então a barra de chocolate custa R$ 1,10. Mas R$ 1,10 + 10 centavos = R$ 1,20, o que não pode estar certo. Coce um pouco a cabeça e você chegará à resposta correta: o chiclete custa 5 centavos e o chocolate custa R$ 1,05. Foi seu lado intuitivo que atravessou a resposta analítica.

 

Referencias:

https://www.businessinsider.es/warren-buffett-admite-equivoco-no-invertir-google-570063

https://www.cnbc.com/2017/05/06/warren-buffett-admits-he-made-a-mistake-on-google.html

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