7 pecados capitais (ou do capital) do Investidor

Por Leonardo Silva

Você conhece os 7 pecados capitais? Independente de sua religião ou crença espiritual, você já ouviu falar deles. No ano de 590, o Papa Gregório (540-604) fez sua lista de pecados e os nomeou como capitais, do latim “caput” (cabeça, chefe, líder). A configuração dos pecados capitais definida por ele ficou conhecida por mais de 600 anos. Em 1273, a Suma Teológica de São Tomás de Aquino fez a revisão dos pecados listados pelo Papa Gregório e os classificou novamente. Tal reclassificação resultou na lista dos atuais sete pecados capitais: luxúria, soberba (vaidade), preguiça, inveja, gula, avareza e ira (raiva).

E os 7 pecados do Capital do Investidor? Este pode cometer alguns pecados, os quais podem levar a regiões de mais baixa frequência e planos inferiores, e outros nem tanto. Mas todos, isoladamente ou em conjunto, podem sim comprometer aquele retorno financeiro superior ao santo CDI ou ao celestial IBOV, alternativas para rentabilizar o seu suado dinheiro excedente para investir. Na minha, não tão santa opinião, são:

  1. Negócio com proposta de valor baixa com muito marketing e maquiagem (Vaidade e Luxúria?) Todo negócio deve resolver um problema, criar uma eficiência ou redução de custo ou entregar um produto ou serviço que preencha um desejo ou uma vontade. Os que resolvem problemas são mais assertivos em termos de investimento, pois são mais tangíveis, objetivos e reconhecidos pelo cliente pagante. Tem muita solução bacana ou inovadora que não monetiza pois a equação de valor ou o fit de produto nunca chega. Ou seja, é bacana mas ninguém ou pouca gente compra pois a equação de valor não fecha. Não adianta investir pois a marca é legal e o projeto esta muito bem apresentado com efeitos pirotécnicos e uma boa estória contada.
  1. Avaliação superficial do time fundador e do plano de negócios (Preguiça?) Plano é plano e nenhum bom plano resiste a uma péssima implementação ou a realidade do mercado. Entretanto, um plano com boa pesquisa e boas premissas é um ótimo ponto de partida. O time fundador precisa ter o conhecimento, as habilidades e a atitude para fazer este plano acontecer. Um bom grupo investidor pode ajudar, aconselhar e fazer importantes conexões. Entretanto, é o empreendedor que executa. Não economize tempo entendendo e avaliando isso ou conte com uma empresa profissional que já fez esta análise antes para você.
  1. Investir sozinho (Avareza?) O investidor que investe sozinho perde poder de análise e não consegue adicionar valor suficiente ao empreendedor, mesmo que possua o capital necessário. Por isso, o investimento coletivo otimiza o capital financeiro e intelectual que será colocado no negócio. Convide outros investidores para investir com você ou invista em grupo. 
  1. Não montar um portfólio (Preguiça?) Dá trabalho montar e acompanhar um portfólio de empresas? Dá sim! Requer algum tempo? Sim! Mas é a única forma de obter retornos consistentes ao longo de tempo. Por isso, uma comunidade de investidores investindo em negócios verificados e com governança pós investimento é uma opção valida e muito satisfatória para ajudar o investidor a decidir, aportar e acompanhar seus investimentos. 
  1. Pegar parte grande do equity da empresa do empreendedor (Gula ou Avareza?) A jornada do empreendedor é longa e o negócio precisa ter equity para rodadas futuras de financiamento. Após alguns anos, quando o negócio chegar a sua terceira ou quarta rodada, ou uma série C, será muito importante ao empreendedor ter o controle acionário do negócio. Se esta pista fica curta antes da hora, os demais investidores perdem interesse em entrar no negócio. Ou seja, investidor que usa a força do capital e fica com 30% ou 40% do negócio esta cometendo um pecado grave e irá perder o seu investimento por falta de continuidade em futuras rodadas.
  1. Investir porque alguém famoso esta no conselho da empresa ou algum investidor famoso esta investindo ou algum empreendedor de palco é um dos sócios (Vaidade ou Inveja?) ao invés de seguir uma tese. “Ah, vou investir porque o fulano, que é CEO da empresa X, investiu!” ou “Vou participar pois já vi este empreendedor em várias reportagens ou eventos”. “Decidi investir neste negócio pois esse investidor aqui já ganhou dinheiro e eu não ganhei”. Não caia nessa! Invista com base em um bom plano, com ótimo de time de fundadores que resolvem um problema real. O resto pode ser ego alheio sendo alimentado e seu capital alimentando vaidades.
  1. Negócio que anda de lado, sem saída do investimento e gastador de caixa (Ira?) Você investidor irá ficar muito irado se ao longo do tempo precisar fazer novos aportes para sustentar um negócio que não vai a lugar algum. Por isso, desde o início, é preciso compreender as possibilidades de saída do seu investimento. Todo investidor em estágio inicial entra, sai, se capitaliza e reinveste em outros negócios. Isso é o que gera valor no longo prazo e ajuda a economia. Investidores experientes, no geral, fazem escolhas melhores.

Como dizem por ai, o inferno esta cheio de boas intenções e conselhos. Entretanto, o investidor que tomar estes cuidados certamente não irá sentir a Ira de ter feito um investimento ruim ou ter sido induzido a escolhas ruins e não sentirá a Inveja de outros investidores com saídas expressivas de seus investimentos.

Agora, quando e após alguns sucessos, que não tenha a Vaidade de relaxar com o seu nível de acerto, pois as coisas mudam, as tecnologias evoluem e os mercados ganham outros aspectos. E com isso, trago a velha máxima dos investimentos, onde resultado e performance passadas não garantem resultados futuros. A vida do investidor em empresas em estágio inicial é muito estimulante e interessante e tem a possibilidade de retornos assimétricos quando a atividade é feita de forma constante, consistente e com critérios bem definidos.

Neste assunto não há espaço para dogmas e o tema requer muito pragmatismo e os pés na terra, que não é plana. Até a próxima, e sem pecar muito neste meio tempo! :) 

Veja todas as novidades