Saída (de emergência).
Por Carlos Rubinstein
Fala sério. Se teve algum momento na vida no qual você (e eu) realmente gostaria de procurar e usar a saída de emergência, seja pegando uma escada, abrindo uma porta dupla, ou pegando um corredor especifico, se alguma vez você desejou profundamente que exista esta saída, permitindo um escape literal, ou visceral, que conduza você diretamente para um porto seguro, um lugar confiável, sem máscaras, sem vírus, sem quarentena, sem distanciamento social e com aulas para as crianças!!! Enfim, definitivamente se todo mundo necessitou alguma vez da existência real desta saída, esse momento é agora.
Já pensou?... Melhor não pense, sonhe, pois não existe a tal saída de emergência.
Você interrompe a leitura agora e pergunta: Como assim?
E eu respondo: Pois é... lamento. Estava lindo, mas saída de emergência não existe para este caso.
Você retruca: Mas uma esperança, algum tipo de vacina ou tratamento, algo que nos permita acordar melhor amanhã, será que não tem?
Eu digo: Esperança.... sempre tem... tem também centenas de científicos procurando saídas... tem gente até forçando a saída, mas... continua comigo e voltemos na leitura...
Eis aqui a sua necessidade imperiosa (a minha, a nossa, a da humanidade) de contar com uma saída.
Saídas (de emergência ou normais) são necessárias. Nos deixam confortáveis. Permitem a continuidade dos ciclos. Nos trazem segurança. São, diria, obrigatórias. Não existe Entrada se não existe Saída, ou existe? Deveríamos entrar se é uma via de mão única, sem retorno?
Se na vida sempre avaliamos isto, consciente ou inconscientemente, nos investimentos isto deveria ser um mandamento, um mantra, uma lei.
Investir em startups, empresas em estágio inicial, definitivamente não é um investimento ao estilo Warren Buffett (e olha que eu sou fan do cara). Não estamos falando de permanecer 10-20 anos posicionados na empresa, mas sim algo em torno de 2-7 anos.
Ser um investidor anjo nos permite empreender sem a necessidade de participar no dia a dia da empresa, nos permite trabalhar e conhecer empresários superinteressantes com experiências enriquecedoras e dispostos todos a contribuir de forma colaborativa, nos permite também participar de projetos que podem contribuir e mudar o mundo para melhor. (Tudo isto é genuíno e motivador). Mas o objetivo central, o motivo que levou a maioria das pessoas na atividade de investimento anjo, é a possibilidade de ganhar dinheiro com a perspectiva e a oportunidade de investir em empresas cujas receitas, lucros e valor patrimonial voem à estratosfera (Isto último é o final feliz com o que todos sonhamos, ou não?).
No mundo real, damas e cavalheiros, as coisas nem sempre são em preto e branco. As startups que parecem ter grande sucesso, podem na verdade acabar sendo uma miragem. E aquelas ignoradas pela mídia e longe de holofotes podem gerar centenas de milhões de reais. Na Wiztartup nos esforçamos diariamente procurando no labirinto empresas que valham a pena.
Continuando alinhado com lógica realista, os tópicos abaixo explicam por que a visão de longo prazo tipo Warren Buffett, comprar e manter, não deveriam ser os objetivos dos investidores anjos, com base em fatos reais:
- 50% das startups vão fechar as portas;
- 20% vai vender o negócio para uma empresa maior;
- 15% pode ser contratada por outra empresa;
- 7% se transforma em walking dead (zumbi);
- 3% faz uma fusão com um concorrente;
- 2% é comprada por um grande investidor;
- 1% é comprada por um investidor que se identifica com a empresa para seu estilo de vida;
- 1% torna-se parte de um roll up;
- 0,9% desaparece;
- 0,1% faz um IPO (Oferta pública de ações na bolsa de valores), talvez virando um unicórnio.
Investir em startups é arriscado, e só um grupo pequeno do portfólio trará resultados significativos. Resulta impossível dizer com antecedência exatamente qual das empresas será um Golaço com retornos superiores a 20x, sendo assim todas as empresas de um portfólio de startups devem ter pelo menos a possibilidade de fazer um golaço...
O retorno do investimento se materializa na “Saída” (em inglês Exit). Esta “Saída” pode acontecer em algum momento, entre 2-7 anos, através do que se conhece como “Evento de Liquidez”. É indispensável que o investidor possua uma estratégia de saída, pois chegado o momento, vacilar diante as opções não pode ser uma opção.
Para ter em mente alguns caminhos de saídas possíveis, com retorno (diferente) para os investidores e traçar uma estratégia:
- A Rodada na qual os investidores anjos entraram, não deveria ser a última. Na medida que novas rodadas de captação de recursos acontecem, a possibilidade de um novo investidor adquirir a parcela de participação dos investidores anjos se materializa.
- No Brasil, isto pode acontecer a partir da Serie B. Ou de aí em diante. Os tipos de rodadas de captação, são: Seed ou investimento semente, Serie A, Serie B, Serie C... IPO.
- Uma grande empresa inicia o processo de compra da startup, adquirindo a participação dos investidores anjos. Conhecido como M&A (em inglês Merge and Adquisition, Fusão e Aquisições). Processo conhecido como Corporate Builder.
- Um fundo de Venture Capital (VC) ou de Private Equity (PE) se interessa em entrar no negócio da startup. Isto é diferente da opção anterior, pois o VC/PE mantem a empresa original. De todas formas também possibilita a saída dos investidores anjos.
- Uma IPO (Oferta pública de Ações). Esta pode ser a mais demoradas de todas as saídas. Quantas startups já fizeram IPO no Brasil? Quantas fizeram IPO nos Estados Unidos?
- A Startup não é vendida. Porem se transforma numa vaca leiteira, proporcionando um fluxo de caixa constante para os sócios (através de dividendos).
- Sem saída. Por incrível que possa parecer, esta é uma opção válida. Desde que os sócios se identifiquem com o negócio e o incorporem em seu estilo de vida. Neste caso a ideia não e vender/sair e sim viver da empresa.
- O mercado secundário ainda não está regulamentado no Brasil, o que dificulta e resta liquidez para que o investidor anjo revenda sua participação para outro. Eis aqui outra possibilidade de saída.
Se você perguntar qual é o momento certo de saída para um número considerável de investidores, possivelmente você vai obter um número considerável de respostas diferentes.
Cada investidor e cada empreendedor deve procurar a resposta com base em suas próprias circunstâncias e as circunstâncias da empresa. Não existe uma fórmula secreta, existe sim a certeza que em algum momento tanto investidores como empreendedores buscaram a saída.
Importante é que não seja a saída de emergência, pois esta pode custar muito caro.