Quanto vale uma ideia?

Por Leonardo Silva

Eu adoro novas ideias e acho que as pessoas imaginativas são as que identificam tendências ou criam o futuro. Já dizia Einstein: a imaginação é mais importante do que o conhecimento. O conhecimento é limitado, mas a imaginação circunda o mundo. Mas o que é uma ideia? Qual é o valor de uma ideia? Devo empreender pois tive uma ideia? Alguém investe em ideia?

Hoje a mensagem é um pouco mais focada nos empreendedorxs do que nos investidorxs. Entretanto, sendo investidor e empreendedor ao mesmo tempo costumo ter uma visão integrada e simbiótica dos dois assuntos.

A ideia vale alguma coisa? Sim, vale. Sou contra a ideia de que ideia não vale nada – com perdão do trocadilho. Mas ela vale pouco. Muita gente acredita que tenha muito boas ideias o tempo todo. E imagino que tenham mesmo, afinal eu também tenho muitas. Entretanto, o que muitos chamam de ideias não passam de bons insights. O insight é aquele estalo que temos de vez em quando. E se tal coisa fosse assim ao invés de assado? E se existisse uma solução simples para resolver um problema x ou y? São insights e não ideias pois não estão modelados, fundamentados com alguma pesquisa, validados com alguns possíveis clientes e com modelo de negócio e P&L equilibrados. Mas, sem dúvida, o insight é aquela fagulha que acende a fogueira. A curiosidade é a madeira. A vontade de transformar é o vento que mantem o chama acesa.

O processo de inovação e criação precisa que um insight se torne uma ideia; que uma ideia se torne um produto; que um produto ajustado ao mercado se torne um modelo de negócio que gere valor suficiente para que consiga gerar caixa para que seja investido novamente no próprio negócio – o capital de giro. O insight precisa ser tratado com carinho para que se torne uma ideia clara, simples e com proposta de valor única. Um erro muito comum na fase de ideação é a morte prematura de bons insights por falta de evidência, preconcepções, falta de orçamento e até governança equivocada no processo de desenvolvimento de novos produtos. Cultive os insights de forma livre e só elimine os que não consigam se materializar em ideias viáveis.

Mas o que saber sobre o seu insight? E digo saber com respostas bem fundamentadas para minimamente as questões abaixo.

- Resolve um problema claro e latente de muitas pessoas?

- Pode ser produzido e testado com rapidez e baixo custo?

- Clientes pagariam por esta solução?

- Parte significativa do mercado compraria esta solução?

- O mercado é regulado?

- Esta solução elimina etapas e simplifica passos e custos na sua comercialização?

- Já existe solução similar?

- Quem são os possíveis concorrentes?

- Tenho as competências para tirar essa ideia do papel?

- É fácil de copiar?

- A solução me agrada ou agrada uma parte significativa do mercado?

Estes dois últimos pontos são bem importantes. O gestor de produto ou empreendedor precisa exercitar a capacidade se auto subtrair da equação e isso quer dizer olhar com o olhar do outro e não com seu próprio olhar. Eu já lancei muito produto onde eu não seria cliente ou parte do mercado alvo. Então, no processo de transformar seu insight em ideia você precisa ser muito observador, curioso, empático com o próximo. E acredite, se no planeta inteiro não existe outra pessoa que tenha pensado como você a sua ideia não deve ser muito boa ou não aplicável. Ou em hipótese mais remota, você pode ser um gênio. Eu sei que passo longe da genialidade então acredito que sempre existem outras soluções diferentes pensadas por outras pessoas e que podem tangenciar a mesma resolução por outro angulo. Aqui existe também o mito da ideia genial. Ela não existe. A maioria das invenções, desde a interface gráfica do Iphone, o sistema operacional Windows e até a Netflix foram invenções adaptadas a partir de outros inventos e tecnologias. As respostas para estas perguntas podem te ajudar a transformar seus insights em ideias fundamentadas para teste. Existem vários modelos como a matriz de Ansoff e o Kanvas para te guiar neste processo. Não espere a super ideia genial e original para começar.

Eu já acreditei em ideias geniais as quais foram desqualificadas após pesquisa de mercado bem executada e teste para modelagem do negócio com estrutura e P&L. Ou seja, o meu insight virou ideia mas não virou produto antes mesmo de investir tempo e dinheiro em um MVP pois não havia como testar de forma barata. Já tive outras ideias não tão geniais que aos poucos se tornaram produtos fantásticos e rentáveis.

E investidor investe em ideia? Se a ideia estiver muito bem fundamentada e validada é possível que isso aconteça. Entretanto, será muito mais provável que isso ocorra se a sua ideia já tiver sido testada com um MVP (produto mínimo viável), o que deixo para explicar em outra publicação sobre hipóteses, testes, protótipos e o conceito de produto ajustado (Product Market Fit). O investidor experiente irá, antes de investir, se certificar de que o empreendedor usou recursos próprios ou FFF (Family, friends and fools) para validar sua hipótese com o cliente alvo. O investidor quase nunca irá correr o risco do empreendedor. O investidor irá correr o risco ao lado do risco do empreendedor que investe tempo, dinheiro e energia no seu empreendimento. E é muito importante que o empreendedor demonstre sua visão, suas habilidades e principalmente os riscos que já correu e irá seguir correndo para executar a sua missão e sonhos.

E por que isso? Porque nenhuma ideia espetacular resiste a realidade do mercado e aos desafios de execução.

A execução passa por conhecimento, competências essenciais de gestão, liderança, foco no cliente e vendas. Então, se você é um empreendedor com uma boa ideia validada te aconselho a buscar sócios que te ajudem a fazer a sua ideia sair do papel e monte uma equipe com todas as competências e capital para a executar. E neste caso, quando vale a sua ideia? Eu te diria que 5% a 10% do captable (quadro com o % de participação de cada sócio no negócio) se a ideia for muito original e passível de pedido de registro ou patente. O real valor do seu empreendimento será o conhecimento sobre os clientes, os processos comerciais, a sua marca e proposta de valor, o roadmap de evolução do seu produto ajustado e principalmente o crescimento rápido do seu faturamento e posteriormente o resultado financeiro do seu negócio. E por isso, empreender requer outras aptidões além do insight e da ideia. Note que muitos negócios de sucesso são adaptações ou até versões de negócio já existentes em outros países.

 

As ideias somente razoáveis, mas bem implementadas, tem boas chances de ter sucesso. Uma excelente ideia sem boa execução esta fadada ao fracasso. É verdade, mas continue tendo insights, sendo inconformado e testando suas ideias pois isso é o que move o mundo e o que poderá mover o seu futuro negócio!

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